O Ministério de Jesus
✨ E a Plenitude do Reino
I. Introdução
O Que Significa “Ministério”?
Antes de falarmos sobre o ministério de Jesus, é essencial compreender o que significa essa palavra.
A palavra “ministério” vem do latim ministerium, que significa serviço ou função exercida em favor de outros. Sua raiz é minister, que quer dizer “servo”, em contraste com magister, “mestre”.
Na fé cristã, especialmente na tradição católica, o ministério é sempre algo recebido como missão da parte de Deus para ser exercido em serviço dos irmãos. É um ato de amor obediente.
Jesus mesmo disse:
“O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mt 20,28)
Portanto, quando falamos do Ministério de Jesus, não nos referimos a um “cargo” ou “função institucional”, mas sim à missão salvífica que Ele recebeu do Pai, vivida com obediência, amor e entrega.
A missão de Jesus em suas próprias palavras
Logo no início da sua vida pública, ao ler na sinagoga de Nazaré o profeta Isaías, Jesus declara solenemente qual é a missão que recebeu do Pai:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e a recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar um ano da graça do Senhor.” (Lucas 4,18-19)
Com essas palavras, Ele assume publicamente o seu ministério:
- um ministério de anúncio, libertação, cura e misericórdia — ou seja, o ministério do Reino de Deus em ação.
II. O Ministério de Jesus
O ministério de Jesus inicia-se “na plenitude dos tempos” (cf. Gálatas 4,4), quando Deus envia Seu Filho ao mundo. Não é um ministério qualquer, mas o cumprimento de todas as promessas feitas por Deus desde o Antigo Testamento, especialmente as alianças com Abraão, Moisés e Davi.
O ministério público de Jesus começa com dois grandes sinais:
Seu Batismo no Jordão (cf. Mateus 3,13-17): Jesus, embora sem pecado, se submete ao batismo de João para inaugurar seu ministério e se manifestar como o “Servo de Deus” que carrega os pecados do povo (cf. Isaías 53).
A Tentação no deserto (cf. Mateus 4,1-11): Jesus vence o tentador, mostrando que veio para restaurar aquilo que Adão perdeu. Ele é o Novo Adão (cf. Romanos 5,14).
“A tentação de Jesus manifesta a maneira como o Filho de Deus é Messias: contrário ao caminho proposto por Satanás.” (CIC 538-540)
III. O Conteúdo do Ministério de Jesus
a) Anúncio do Reino de Deus
Jesus prega:
“Convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo” (Mateus 4,17).
O Reino de Deus não é um lugar, mas a presença ativa de Deus que salva, cura, perdoa e transforma. Ele o anuncia com palavras e o realiza com obras.
b) Chamado à Conversão
Jesus convida cada pessoa a se arrepender e crer no Evangelho. Não é apenas uma mudança externa, mas uma transformação do coração.
c) Escolha dos Doze Apóstolos
Jesus chama Doze homens para formar o núcleo da sua nova comunidade: a Igreja (cf. Mateus 10,1-4). O número doze remete às doze tribos de Israel — sinal de que Ele está restaurando o Povo de Deus.
“Jesus constitui os Doze como ‘germe do novo Israel’.” (CIC 765)
d) Milagres e Sinais
Os milagres de Jesus não são truques, mas sinais do Reino. Eles confirmam sua autoridade divina e revelam a compaixão de Deus:
Cura dos doentes
Expulsão dos demônios
Domínio sobre a natureza
Ressurreição dos mortos
“Os sinais realizados por Jesus atestam que o Reino está presente n’Ele.” (CIC 547)
e) Instituição da Eucaristia e o Sacerdócio
Na Última Ceia, Jesus institui:
A Eucaristia, como memorial de sua Paixão.
O Sacerdócio, ao mandar os apóstolos “fazer isto em memória de mim”.
“Nosso Salvador instituiu o sacrifício eucarístico de seu Corpo e Sangue para perpetuar o sacrifício da Cruz.” (CIC 1323)
f) Fundação da Igreja
A missão confiada a Pedro e aos apóstolos dá origem à Igreja:
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mateus 16,18-19).
g) Missão: Enviar a Igreja ao Mundo
Antes de subir ao céu, Jesus dá à Igreja a missão de evangelizar todos os povos:
“Ide, pois, e fazei discípulos entre todas as nações… ensinando-os a observar tudo o que vos mandei” (Mateus 28,19-20).
Logo, o ministério de Jesus é o tempo da sua vida pública que inicia-se no batismo no Jordão e vai até a sua Ascensão, é o coração da salvação, onde Deus se revela plenamente e age para restaurar o homem. Ele é o novo Adão — Ele é o próprio Deus feito homem.
Nesse tempo, Jesus:
anuncia a chegada do Reino de Deus;
chama à conversão;
cura, ensina, liberta e forma discípulos;
institui a Eucaristia e o sacerdócio;
e consuma sua missão na Paixão, Morte e Ressurreição.
Esse ministério é profético (Ele revela Deus), sacerdotal (oferece-se como sacrifício) e real (reina com amor, curando, libertando e conduzindo). Mas acima de tudo, é um ministério de serviço e salvação.
Portando, o ministério de Jesus é:
“O tempo em que Jesus andou entre os homens para servir, ensinar, curar e salvar, cumprindo com amor a missão que o Pai lhe confiou.”
IV. Boa-Nova e o Evangelho
Para compreendermos de forma mais profunda o ministério de Jesus é preciso entender o que significa “Boa-Nova” e o “Evangelho”.
Jesus inicia seu ministério dizendo:
“Convertei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1,15)
Ou seja: “Creiam na Boa-Nova de Deus!”
Ele não traz uma nova filosofia, mas uma mensagem viva de salvação.
Mas… o que é Evangelho? O que é Boa-Nova?
A expressão “Boa-Nova” é a tradução em português do grego euangelion (εὐαγγέλιον), que significa literalmente:
Boa notícia, mensagem feliz, anúncio de vitória.
Essa palavra foi traduzida do grego para o latim como evangelium, de onde vêm os termos “Evangelho” e “evangelizar”.
Dentro da perspectiva Católica, “Boa-Nova” é a mensagem central da nossa fé cristã:
É o anúncio de que Deus nos amou tanto que enviou seu Filho, Jesus Cristo, para nos salvar do pecado e da morte, e nos dar a vida eterna.
Que basicamente significa que:
Deus não nos abandonou apesar do pecado da humanidade;
Enviou Seu próprio Filho, Jesus, para nos resgatar;
Jesus assumiu nossa condição humana, nos ensinou o caminho da verdade;
Morreu por nós na cruz, oferecendo-Se como sacrifício de amor;
Ressuscitou, vencendo a morte;
E nos convida a segui-Lo e a viver com Ele na comunhão com o Pai.
Em termos simples:
“Boa-Nova” é a notícia de que Deus veio pessoalmente nos salvar, por amor, em Jesus Cristo.
E sinônimo de:
Evangelho
Mensagem da salvação
Anúncio da vitória de Deus sobre o pecado e a morte
Revelação do amor de Deus em Jesus
Não é apenas uma mensagem positiva ou uma teoria espiritual. É um fato histórico e salvífico que muda a vida do mundo e de cada pessoa.
Curiosidade:
Quando dizemos, por exemplo, “O Evangelho segundo João” é equivalante à “A Boa-Nova da salvação em Cristo, conforme o testemunho e inspiração do apóstolo João.”
V. O Evangelho Não É Apenas uma Mensagem: É uma Pessoa
Mais profundamente, o Evangelho não é só uma mensagem — é uma Pessoa viva: Jesus Cristo.
O Catecismo ensina:
“A Boa-Nova de Jesus Cristo é que Deus visitou o seu povo” (CIC 422)
Jesus não apenas prega a salvação — Ele é a salvação. Ele não só fala a verdade — Ele é a Verdade (cf. João 14,6).
Por isso dizemos que crer no Evangelho é crer em Jesus. Anunciar o Evangelho é apresentar Jesus vivo.
VI. O Evangelho Revela o Reino de Deus
Jesus não veio apenas nos ensinar coisas boas. Ele veio instaurar o Reino de Deus.
Mas o que significa “Reino de Deus”?
O Reino de Deus é a ação viva de Deus reinando com amor, justiça, paz e salvação sobre todas as coisas, começando no coração dos homens e culminando na eternidade.
“O Reino de Deus está no meio de vós” (Lucas 17,21)
O Reino não é um lugar físico, mas uma realidade espiritual e concreta:
Onde Deus é obedecido como Rei;
Onde o amor vence o pecado;
Onde há cura, conversão e perdão.
VII. O Reino Já Está Entre Nós, Mas Ainda Está Por Vir
Jesus diz duas coisas aparentemente contraditórias:
“O Reino está próximo” (Marcos 1,15)
“O Reino está no meio de vós” (Lucas 17,21)
Como entender isso?
A teologia católica ensina que o Reino tem uma dimensão dupla:
Tempo | Significado |
---|---|
Já | O Reino começou com Jesus: curas, perdão, Eucaristia, Igreja |
Ainda não | O Reino será pleno na segunda vinda de Cristo |
Essa realidade nos exige uma decisão:
- O Reino está “próximo” — ou seja, à porta.
- Cada pessoa precisa decidir: acolher o Reino ou recusá-lo.
VIII. Gálatas 4,4-7: A Chave de Leitura da Missão de Cristo
Com esse pano de fundo, podemos agora entender com profundidade o texto de Gálatas 4,4-7:
“Na plenitude dos tempos” → O início do Ministério de Jesus
Essa expressão mostra que Deus age no momento certo da história.
Não é uma ação aleatória: é o cumprimento das promessas antigas.
O ministério de Jesus começa porque chegou o tempo preparado por Deus para intervir na história — esse é o tempo do Reino que começa a se manifestar.
“Deus enviou seu Filho” → A encarnação como começo do Reino
O envio do Filho é o primeiro passo visível do Reino de Deus entre nós.
O próprio Jesus é o Evangelho encarnado, a Boa-Nova viva.
O ministério de Jesus é o desenrolar dessa missão: Ele foi enviado para servir, anunciar, salvar. Ele é o Servo-Messias que revela o Pai.
“Nascido de mulher, sob a Lei” → Ele assume nossa condição
- Jesus não aparece “de fora”, mas entra na nossa realidade, nascido da Virgem Maria, e submete-se à Lei, como todos nós.
O ministério de Jesus é um ministério solidário: Ele vive a nossa vida, sofre os nossos limites, e redime a partir de dentro da humanidade.
“Para resgatar os que estavam sob a Lei” → Missão redentora
Jesus não veio abolir a Lei, mas cumpri-la (cf. Mt 5,17).
Ele nos liberta da escravidão do pecado e da condenação pela Lei.
O ministério de Jesus é, em sua essência, redentor. Tudo o que Ele faz — curar, ensinar, perdoar, entregar-se na cruz — é para nos resgatar e reconciliar com Deus.
“Para que recebêssemos a adoção filial” → O Reino é filiação
Jesus nos dá mais que perdão: Ele nos torna filhos no Filho!
Isso é o coração do Reino: participar da vida de Deus como filhos.
O ministério de Jesus é a ponte entre o céu e a terra, onde não somos mais escravos do medo ou da Lei, mas filhos livres no amor do Pai.
“Enviou o Espírito… que clama ‘Abá, Pai!’” → A vida no Reino
O Espírito Santo é o selo do Reino dentro de nós.
Graças ao ministério de Jesus, recebemos o Espírito que nos faz viver como filhos, em intimidade com o Pai.
O ministério de Jesus culmina no envio do Espírito, que nos incorpora ao Reino e nos faz continuar sua missão pela Igreja.
“Já não és escravo, mas filho e herdeiro” → O Reino como herança
A meta do ministério de Jesus é nos restituir à dignidade perdida.
Ser “herdeiro” significa: o Reino nos pertence por graça, não por mérito.
O ministério de Jesus é um ministério de restauração e adoção: Ele nos tira da condição de queda para nos fazer reis e sacerdotes com Ele.
Ou seja, essa passagem mostra todo o plano do ministério de Jesus:
Versículo | Conexão com o ministério de Jesus |
---|---|
“Plenitude do tempo” | O momento exato da história em que Deus entra no mundo |
“Deus enviou seu Filho” | Início do Evangelho: a Boa-Nova é o próprio Cristo |
“Nascido de mulher, sob a Lei” | Jesus assume nossa condição para nos redimir |
“Resgatar os que estavam sob a Lei” | Missão de salvação: libertação do pecado e da condenação |
“Receber a adoção filial” | Somos feitos filhos, não mais escravos |
“O Espírito clama: ‘Abá, Pai!’” | O Reino está dentro de nós: vivemos como filhos do Pai |
“Já não és escravo, mas filho” | A meta do ministério de Jesus: restaurar a filiação com Deus |
Sem compreender o que é ministério, Evangelho, Reino de Deus e a missão de Cristo como Pessoa e como Palavra, essa passagem pareceria apenas teológica.
Mas agora, ela se revela como um resumo do próprio plano de salvação.
IX. Conclusão
O ministério de Jesus é a realização, no tempo e na carne, da vontade salvífica de Deus.
Ele é o Evangelho encarnado, a Boa-Nova viva, que anuncia e inaugura o Reino de Deus, e nos convida a participar como filhos e herdeiros.
“Já não és escravo, mas filho. E se és filho, és também herdeiro.” (Gálatas 4,7)
A missão de Cristo é também a nossa missão: acolher o Reino, viver como filhos e anunciar a Boa-Nova que é o próprio Jesus. 🙏
Por Minha Fé Católica - 22/06/2025