Igreja

Sacramento de Encontro com Jesus

Introdução

Ao trabalharmos o tema Igreja, Sacramento de Encontro com Jesus, podemos intuir essa expressão como algo profundamente central na vida do cristão. Basicamente, a Igreja é vista como o sinal visível da presença de Cristo no mundo, assim como os sacramentos são sinais visíveis da graça invisível.

Em outras palavras, a Igreja não é apenas uma instituição, mas o meio pelo qual as pessoas encontram Jesus de forma comunitária, especialmente na liturgia, na Eucaristia, nos sacramentos e na vida da comunidade.

Vamos explorar, a partir de agora, como a Igreja é o projeto visível do amor de Deus pela humanidade.

Fundação e missão universal da Igreja

Jesus Cristo, ao concluir sua missão terrena, não deixou um livro, nem um grupo de pessoas soltas com ideias desconexas. Ele fundou uma Igreja, com estrutura, missão e autoridade, para que sua presença continuasse viva, visível e eficaz até o fim dos tempos, e também para continuar sua obra de salvação e levá-la a cada homem, de cada povo e de cada nação, até que Ele volte para consumar essa obra.

Por isso, a Igreja é chamada de sacramento universal da salvação (cf. Catecismo 774), ou seja, um sinal visível e eficaz da graça de Cristo no mundo. E essa missão universal da Igreja está fundamentada nas palavras de Jesus aos apóstolos:

“Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, […], ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei. Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,19-20).

Também em Mc 16,15 Ele declara:

“Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura.”

Assim, Cristo garante que a missão da Igreja alcançara a todos e em todos lugares e permanecerá viva e eficaz até sua volta gloriosa.

Necessidade de visibilidade e organização eclesial

Jesus sabia que a verdade do Evangelho, para chegar a todos os povos, em todos os tempos, precisava de algo mais do que memórias pessoais ou experiências subjetivas. Era necessário um corpo organizado, com autoridade legítima, continuidade histórica e uma missão clara: ensinar, governar e santificar em seu nome.

Alguém pode perguntar: Mas a Igreja não seria apenas uma realidade espiritual, unida pela fé e crença em um Deus vivo e poderoso? Afinal, o próprio Jesus disse:

“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles”?

De fato, Ele disse isso. Mas essa afirmação não anula a necessidade da Igreja como comunidade visível e estruturada.

Podemos olhar para qualquer momento da história da humanidade — até mesmo na criação — e perceber que em todas essas realidades existe algum tipo de hierarquia ou autoridade: seja na vida social, no reino animal e até na realidade angelical (cf. Cl 1,16; Ef 1,21; Gn, Ez, Jd, Dn etc.).

Portanto, é verdade que Jesus está presente em qualquer reunião de fiéis, mas isso não significa que essa reunião, por si só, substitui a Igreja como um todo.

Esse passagem bíblica acima não afirma que qualquer grupo de dois ou três constitui a totalidade da Igreja, mas sim que Jesus se faz presente mesmo em pequenas reuniões. Essa é uma verdade — porém, não exclui o fato de que Jesus também fundou uma Igreja visível.

Coluna da verdade e alerta contra falsos profetas

São Paulo é muito claro ao ensinar que a Igreja não pode ser entendida apenas como algo invisível ou espiritual. Ele escreve a Timóteo:

“Todavia, se eu tardar, saberás como proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo: coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15).

Se a Igreja fosse apenas espiritual, como poderíamos compreender esse texto que a apresenta como casa visível de Deus, onde se aprende a viver e a preservar a verdade?

E é exatamente porque Cristo deixou uma autoridade concreta, que a Igreja pôde se tornar na história a coluna e o sustentáculo da verdade.

Isso também se conecta às palavras de Cristo, que previu a vinda de falsos profetas que enganariam a muitos e fariam esfriar a fé de muitos corações (cf. Mt 24,11-13.24). Por isso, Ele prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra a sua Igreja (cf. Mt 16,18). E São Paulo adverte:

“Virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina; cercar-se-ão de mestres conforme os próprios desejos, sentindo coceira nos ouvidos; desviarão os ouvidos da verdade e se voltarão para as fábulas” (2Tm 4,3-4).

Esse fenômeno é visível até hoje nas muitas correntes religiosas que nascem buscando “novidades” e doutrinas agradáveis ao gosto humano, em contraste com a fidelidade ao Evangelho — como, por exemplo, a chamada teologia da prosperidade, presente em algumas denominações.

Missão, sacramentos e continuidade apostólica

Essa Igreja, como comunidade organizada, tem uma missão mais ampla: preservar os ensinamentos de Cristo transmitidos aos apóstolos, administrar os sacramentos e garantir a continuidade da fé apostólica. É uma família maior, que não se limita a pequenos grupos, mas abrange toda a comunidade de fiéis ao redor do mundo, com uma estrutura que remonta aos apóstolos.

Em resumo, a presença de Jesus onde dois ou três estão reunidos é real — mas isso não elimina a importância da Igreja como instituição visível e universal, fundamental para a vida cristã.

Dimensão espiritual e Igreja-Esposa

Portanto, a Igreja é, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual e também uma instituição visível e necessária, instituída por Jesus. Podemos entender isso melhor dividindo em alguns pontos:

Primeiro, lembremos que a Igreja é chamada, tanto no Catecismo quanto nas Escrituras, de Corpo Místico de Cristo.

Espiritualmente falando, todos os batizados estão unidos a Cristo e uns aos outros como membros de um só corpo — essa é a dimensão espiritual. Mas, além disso, Jesus quis que a Igreja tivesse uma estrutura concreta: Ele escolheu apóstolos e deu autoridade a Pedro e aos demais, e essa estrutura visível se desenvolveu ao longo do tempo, resultando na Igreja como a conhecemos hoje.

Além de ser chamada Corpo Místico de Cristo, a Igreja é também apresentada nas Escrituras como a Esposa de Cristo. São Paulo afirma:

“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a Palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27).

A imagem da Igreja como Esposa de Cristo une as duas dimensões — espiritual e visível — do mistério da Igreja.

De um lado, ela é a Esposa santificada pelo Batismo e chamada a ser santa e irrepreensível diante de Cristo (cf. Ef 5,25-27), revelando sua vocação mística e espiritual.

De outro lado, é a Igreja terrena, visível e organizada, que por meio da pregação da Palavra, da celebração da liturgia e dos sacramentos prepara os fiéis para esse encontro definitivo com o Esposo.

Não existe, portanto, uma separação entre uma Igreja espiritual e outra institucional: trata-se da mesma Igreja, Corpo e Esposa de Cristo, que já é vivida na história como comunidade visível e hierárquica, mas que caminha para a plenitude da Nova Aliança, quando será apresentada a Cristo como Esposa santa, purificada e gloriosa (cf. Ap 19,7-8).

Essa imagem revela que Cristo se entregou totalmente por sua Igreja, não apenas para guiá-la, mas para uni-la a Si em amor eterno, como um esposo fiel à sua esposa. Aqui temos uma profunda base bíblica para a santidade da Igreja: mesmo formada por pecadores, sua vocação última é ser santa e irrepreensível, porque é a Esposa amada de Cristo.

Além disso, essa linguagem da Igreja como Esposa se encaixa perfeitamente na noção de aliança: Cristo é o Esposo, a Igreja é a Esposa, e juntos constituem a Nova Aliança selada com o Seu sangue. Assim como no Antigo Testamento Deus se apresentava como esposo de Israel (cf. Os 2,21-22; Is 54,5), agora, na plenitude da revelação, Cristo assume para Si a Igreja, numa união indissolúvel.

Por fim, essa imagem da Igreja como Esposa oferece também um tom mais espiritual e pastoral: lembra-nos que a missão da Igreja não é apenas anunciar o Evangelho e administrar os sacramentos, mas também preparar-se como Esposa santa e imaculada para o encontro definitivo com Cristo no banquete eterno (cf. Ap 19,7-8). Dessa forma, equilibra-se a dimensão apologética da autoridade e da hierarquia com a dimensão mais íntima e amorosa da comunhão entre Cristo e a Igreja.

Primado de Pedro e sucessão apostólica

As cartas de São Paulo mostram comunidades organizadas, com líderes e uma estrutura de ensino e de celebração.

Vale destacar também que Jesus diz a Pedro:

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja… Eu te darei as chaves do Reino dos Céus” (cf. Mt 16,18-19).

Isso revela uma dimensão institucional e concreta, onde Jesus, com essas palavras, se dirige a Pedro para confiar-lhe o mandato de governar “a Sua” Igreja, deixando claro que a Igreja é propriedade de Cristo.

É preciso notar que Ele disse “a minha Igreja”, no singular e de maneira determinada. Ele não disse a Pedro: “sobre ti edificarei uma Igreja”, de forma indeterminada, como se pudessem existir outras.

Jesus reforça essa realidade visível de hierarquia e autoridade também em outro momento: após dar as chaves do Reino dos Céus a Pedro, já ressuscitado, Ele lhe pergunta por três vezes se O ama e, por três vezes, o ordena a apascentar as Suas ovelhas (cf. Jo 21,15-17). Dessa forma, Pedro não é apenas “um entre iguais”, mas é confirmado como pastor visível encarregado de guiar a Igreja em nome de Cristo.

Além disso, ao anunciar que Pedro, uma vez convertido, deveria confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22,32), Jesus o estabelece como líder e garante da unidade dos discípulos, confiando a Pedro a missão de fortalecer a fé dos outros apóstolos e mantê-los unidos, missão que permanece na sucessão apostólica.

Desde o Antigo Testamento, Deus mostrou que o seu povo precisava de líderes instituídos por Ele, e não apenas por escolha própria. O autor da Carta aos Hebreus lembra:

“Ninguém deve atribuir-se essa honra, senão quem foi chamado por Deus, como Aarão.” (Hb 5,4).

Ou seja, o sacerdócio é sempre fruto de uma chamada divina confirmada pela comunidade e não de iniciativa individual.

Esse princípio já estava claro também na sucessão de Moisés:

“Toma Josué, filho de Nun, homem em quem há o espírito, e impõe sobre ele a tua mão. Coloca-o diante do sacerdote Eleazar e de toda a comunidade, e dá-lhe as tuas ordens diante deles. Transmitirás parte da tua autoridade a ele, para que toda a comunidade dos filhos de Israel lhe obedeça.” (Nm 27,18-20).

Aqui vemos o modelo da imposição das mãos como transmissão legítima da autoridade de liderança no povo de Deus.

Da mesma forma, no Novo Testamento, Jesus institui os Doze Apóstolos como fundamento visível da sua Igreja. A Última Ceia é o exemplo mais claro disso: Jesus não estava com toda a multidão de discípulos, nem mesmo com sua Mãe Santíssima, mas apenas com os apóstolos, aos quais confiou o memorial da Eucaristia e a ordem:

“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).

Ali estava o núcleo do ministério ordenado, o sacerdócio da Nova Aliança.

Após a morte de Judas, os próprios apóstolos mostraram a necessidade de continuidade, escolhendo Matias para ocupar o lugar que ficara vago:

“É necessário, pois, que um deles se torne, conosco, testemunha da sua ressurreição” (At 1,21-22).

Essa escolha não foi fruto de conveniência, mas obediência ao desígnio de Cristo de manter o colégio apostólico completo.

São Paulo, em suas cartas, testemunha a mesma prática da sucessão apostólica. Ele escreve a Timóteo:

“Não negligencies o dom que está em ti, o qual te foi dado mediante profecia, junto com a imposição das mãos do colégio de presbíteros.” (1Tm 4,14);

e ainda:

“Exorto-te a reavivar o dom de Deus que está em ti pela imposição das minhas mãos” (2Tm 1,6).

E instrui:

“O que de mim ouviste diante de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam capazes de instruir também outros” (2Tm 2,2).

Aqui vemos a lógica clara: os apóstolos ordenam, transmitem e mandam que essa transmissão continue.

Essa é a base daquilo que a Igreja chama de sucessão apostólica. Desde os apóstolos até os dias de hoje, todo bispo, presbítero e diácono foi ordenado pela imposição das mãos, numa linha ininterrupta que remonta aos Doze e, em especial, a Pedro.

E mesmo olhando apenas a história, sem recorrer à Bíblia, os testemunhos mais antigos da Igreja primitiva são unânimes em reconhecer Pedro como o primeiro bispo de Roma, isto é, o primeiro Papa.

Se Pedro foi instituído por Cristo como pastor visível da Igreja, e se a sucessão foi garantida pelos apóstolos e seus sucessores, não há como negar que a Igreja Católica conserva até hoje a autoridade legítima de Cristo transmitida por meio da sucessão apostólica.

Assim, podemos afirmar com clareza: o Papa hoje é o sucessor de Pedro, não por título humano, mas porque existe uma linha contínua de sucessão apostólica que liga diretamente o bispo de Roma ao próprio apóstolo escolhido por Cristo. É por isso que somente a Igreja Católica pode reivindicar de forma plena a nota da apostolicidade: ela é a mesma Igreja fundada por Cristo, guardada pelos apóstolos, conduzida por Pedro, e que continua a existir visivelmente até o fim dos tempos.

Fundamento apostólico e Cristo, pedra angular

Também São Paulo confirma essa dimensão apostólica e visível da Igreja. Ele escreve:

“Portanto, já não sois estrangeiros e adventícios, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus. Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular” (Ef 2,19-20).

Aqui, o Apóstolo une duas imagens complementares.

Em primeiro lugar, a Igreja está firmada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas: não é uma ideia abstrata ou uma reunião espontânea de crentes, mas uma realidade histórica, visível e concreta, que tem como alicerce homens escolhidos, instruídos e enviados por Cristo. Essa mesma verdade aparece na visão da Jerusalém celeste:

“O muro da cidade tinha doze fundamentos, e sobre eles estavam os doze nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro” (Ap 21,14).

Ou seja, mesmo na consumação eterna, a Igreja continua sustentada sobre o testemunho dos apóstolos, confirmando que sua missão não é apenas espiritual, mas também histórica e visível.

Em segundo lugar, São Paulo afirma que Cristo é a pedra angular: a referência absoluta que dá sentido, orientação e solidez a toda a construção. Sem Ele, os apóstolos nada poderiam edificar; com Ele, porém, tornam-se fundamento seguro da Igreja. Assim, a Igreja é ao mesmo tempo apostólica e cristocêntrica: apostólica, porque se apoia nos apóstolos visíveis; cristocêntrica, porque toda a sua força e unidade vêm de Cristo, a pedra angular.

Também São Paulo recorda a necessidade de recorrer à autoridade da Igreja em situações de conflito e discernimento. Ele ecoa o próprio ensinamento de Cristo em Mt 18,15-17, onde o Senhor instrui:

“Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo entre ti e ele somente; se te ouvir, ganhaste o teu irmão. Mas, se não te ouvir, toma contigo uma ou duas pessoas, para que pela palavra de duas ou três testemunhas toda questão se resolva. Se ele se recusar a ouvi-los, dize-o à Igreja; e, se também se recusar a ouvir a Igreja, seja para ti como um pagão e publicano.”

Aqui fica claro que a instância última de decisão não é apenas a consciência individual, mas a própria Igreja visível, que é lugar da autoridade de Cristo, coluna e sustentáculo da verdade (cf. 1Tm 3,15).

Os quatro sinais da verdadeira Igreja

Como podemos perceber, o próprio Jesus nos alertou:

“Cuidado com os falsos profetas! Eles se aproximarão de vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes” (Mt 7,15).

Ao longo da história, todos nós seremos tentados a nos afastar da verdadeira Igreja de Cristo. Por isso, a Igreja de Cristo pode ser reconhecida pelos quatro sinais que professamos no Credo:

  • Una: porque temos uma só fé, um só batismo e um só Senhor (cf. Ef 4,4-6);

  • Santa: porque é santificada por Cristo e chamada a ser sua Esposa sem mancha (cf. Ef 5,25-27);

  • Católica: lembrando que “católica” significa universal, ou seja, a Igreja é católica porque é enviada a todos os povos, em todos os tempos e a todas as culturas (cf. Mt 28,19);

  • Apostólica: porque permanece fundada sobre os Apóstolos e guardada fielmente em sua sucessão (cf. Ef 2,20; Ap 21,14).

Estes quatro sinais não são apenas títulos honoríficos, mas constituem a marca visível e permanente da verdadeira Igreja de Cristo no mundo.

A Igreja, portanto, não é uma ideia abstrata — ela é uma realidade visível.

Conclusão

Por fim, a Igreja, enquanto comunidade reunida, é essencial para a vida cristã porque é nela que recebemos os sacramentos, somos instruídos na e vivemos a comunhão fraterna. É o lugar onde encontramos Jesus de forma concreta: na Eucaristia, na Palavra e na comunidade. Isso nos ajuda a entender que a Igreja é, sim, espiritual, mas também uma instituição concreta e indispensável.

Dentro da doutrina católica, a Igreja é o meio que Jesus deixou para nos oferecer os sacramentos, a instrução na fé e a comunhão com os outros cristãos. Em outras palavras, ela é o modo ordinário pelo qual recebemos a graça de Deus.

Sem a Igreja, perderíamos o acesso aos sacramentos, especialmente à Eucaristia — centro da vida cristã —, à Confissão, ao Batismo e a todos os outros meios que nos ajudam no caminho da salvação. Além disso, é na Igreja que encontramos o ensinamento autêntico, a transmissão fiel da fé e o apoio da comunidade. Ela é a família espiritual onde crescemos na fé.

Portanto, não se trata apenas de ir à igreja como se vai a um prédio. Trata-se de pertencer àquilo que Cristo mesmo instituiu para o bem dos fiéis. É por isso que, na visão católica, não é possível viver plenamente a fé cristã longe da Igreja, pois ela é o caminho escolhido por Jesus para nos encontrarmos com Ele e vivermos como cristãos.

Em conclusão, a Igreja é o instrumento escolhido por Cristo para continuar sua missão redentora — e, por isso, ela não é opcional na vida cristã. A Igreja é o próprio Cristo estendendo-se no tempo e no espaço, por meio da pregação, dos sacramentos, da caridade e do testemunho fiel. Como afirma São Paulo:

“Ele é a cabeça do corpo, que é a Igreja.” (Cl 1,18)

Ou seja, Cristo é inseparável de sua Igreja. Quem deseja encontrar Cristo, precisa reconhecê-lo presente e atuante em seu Corpo visível: a Igreja. 🙏
Apêndice Especial - A autoridade pastoral de Pedro à luz do modelo bíblico: de Davi a Cristo

Para compreender plenamente a autoridade conferida por Cristo a Pedro, é necessário primeiro reconhecer que Jesus não age de maneira arbitrária ou desvinculada da história da salvação. No Antigo Testamento, Deus estabelece um modo específico de governar o Seu povo: Ele mesmo escolhe um líder, confere-lhe autoridade pastoral e o coloca como chefe visível de Israel. Esse padrão é essencial para entender o que Jesus faz no Novo Testamento.

Um dos textos mais claros é 2Sm 5,1-3. Ali, as tribos de Israel proclamam a Davi como rei, mas não porque elas próprias decidiram fazê-lo. Elas repetem aquilo que Deus já havia afirmado sobre ele:

“Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o chefe de Israel.”

Esta declaração é profunda. Ela mostra que, para Deus, “apascentar” não é simplesmente cuidar, mas governar; não é apenas consolar, mas dirigir; não é apenas acompanhar, mas exercer autoridade legítima sobre todo o povo de Deus.

O “apascentar” no Antigo Testamento é sempre uma função pastoral e real, exercida com autoridade delegada pelo próprio Deus. Não é uma metáfora solta. É o modo concreto como Deus governa o Seu povo de forma visível, histórica e organizada. Ele escolhe Davi, unge-o, confere-lhe autoridade, e o povo reconhece essa autoridade porque ela vem do alto. Assim, a figura do pastor-rei torna-se um dos pilares da compreensão da liderança na história bíblica.

Esse mesmo padrão aparece novamente quando Cristo, agora Deus encarnado, estabelece os fundamentos do novo povo de Deus. Em Jo 21,15-17, após a ressurreição, Jesus se dirige exclusivamente a Pedro e lhe confia um triplo mandato: “Apascenta os meus cordeiros… apascenta as minhas ovelhas.” Não se trata de palavras poéticas. É uma retomada consciente e direta da mesma fórmula usada pelo Pai ao instituir Davi como pastor e chefe de Israel.

Assim como Davi recebeu de Deus a missão de apascentar o povo da antiga aliança, Pedro recebe do Cristo ressuscitado a missão de apascentar o povo da nova aliança. A função é a mesma; a autoridade é a mesma; a origem divina do chamado é a mesma. A diferença está apenas na realidade do povo: antes Israel segundo a carne, agora o Israel segundo o Espírito. Não se trata de uma simples “prefiguração” simbólica, pois as palavras e a estrutura são praticamente idênticas. Cristo está replicando, de maneira explícita e intencional, o modo como Deus estabeleceu a liderança visível do seu povo desde o início - Moisés, Josué, os juízes, e, de modo supremo, Davi, o “pastor de Israel”.

Nota de ouro: na LXX (tradução grega do AT), 2Sm 5,2 usa poimainein (“apascentar/pastorear”), o mesmo verbo que aparece em Jo 21,16 (“poímaine” = “pastoreia as minhas ovelhas”). Ou seja, o Novo Testamento ecoa deliberadamente a linguagem régia-pastoral de Davi.

Mas essa coerência interna aparece ainda de forma mais impressionante quando se observa o modo como Jesus confere a Pedro as “chaves do Reino dos Céus” (Mt 16,19). Para entender esse gesto, é preciso recordar Is 22,20-22, onde Deus estabelece Eliacim como mordomo da casa de Davi. Ali, Deus afirma: “Porei sobre o ombro dele a chave da casa de Davi; ele abrirá e ninguém fechará; ele fechará e ninguém abrirá.” A figura do mordomo não era o rei, mas exercia autoridade vicária em nome do rei: administrava, governava, julgava e tinha a palavra final sobre os assuntos do reino.

Essa linguagem é extraordinariamente precisa e aparece somente nesse contexto em todo o Antigo Testamento. Quando chegamos a Mateus 16, Jesus retoma exatamente as mesmas expressões: confere as chaves, concede o poder de abrir e fechar, ligar e desligar, estabelecendo Pedro como administrador visível do Reino que Ele inaugurava. Não é possível considerar isso como coincidência literária. É continuidade intencional.

Em outras palavras, Jesus não apenas repete com Pedro aquilo que Deus fez com Eliacim; Ele o faz no mesmo contexto de governo da casa de Davi, agora elevada à sua plenitude messiânica. Assim como Davi possui um reino e escolhe um administrador para governá-lo, Jesus, o Filho de Davi, estabelece Pedro como aquele que administrar a Sua Casa, a Igreja. Assim como Eliacim recebe as chaves para governar em nome do rei, Pedro recebe as chaves para governar em nome de Cristo. Assim como Davi é instituído como pastor e chefe de Israel, Pedro é instituído como pastor e chefe do novo Israel, o Corpo de Cristo.

Em Jo 21, em Mt 16 e à luz de 2Sm 5 e Is 22, a conclusão é lógica e inevitável: Jesus está deliberadamente reconstruindo em Pedro a mesma estrutura de liderança que o Pai estabeleceu no Antigo Testamento. A mesma linguagem, os mesmos símbolos, a mesma função, a mesma autoridade e o mesmo método de instituição. Pedro torna-se assim o Davi e o Eliacim do Reino definitivo, com a diferença de que agora o Reino é eterno e não terá fim.

Portanto, quando a Igreja afirma que Pedro é o primeiro Papa, não o faz por tradição humana ou interpretação posterior, mas porque reconhece que Cristo, seguindo fielmente o modo como Deus sempre governou Seu povo, instituiu um pastor e chefe visível, conferindo-lhe autoridade real e pastoral. O que Deus fez com Davi, Cristo faz com Pedro; o que Deus fez com Eliacim, Cristo leva à plenitude nas palavras dirigidas ao príncipe dos apóstolos. A sucessão petrina é, portanto, a continuidade histórica e espiritual da maneira divina de conduzir o Seu povo ao longo de toda a revelação. 🙏

Por Minha Fé Católica - 19/1/2025


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