A Tradição Apostólica

O Caminho para a Verdade

Introdução

Nos últimos tempos, tenho me dedicado ao estudo das diferenças entre os cristãos e, mais do que isso, ao desejo sincero de encontrar a verdade que Cristo nos deixou. Em uma dessas conversas, percebi que muitos diálogos entre irmãos na fé acabam se tornando um embate de versículos, onde cada um busca na Escritura a prova definitiva de suas crenças. Mas e se, por um instante, deixássemos de lado os rótulos religiosos, esquecêssemos as denominações e simplesmente nos perguntássemos: O que significa ser cristão?

Quando propus essa questão a um amigo, sua resposta foi clara e direta: ser cristão é seguir a Cristo, viver como Ele viveu e colocar Seus ensinamentos no centro da vida. Diante disso, concordamos que qualquer caminho que verdadeiramente leve a Cristo deve ser o caminho certo. Mas como discernir esse caminho em meio a tantas interpretações e divisões?

A Escolha de Cristo: A Igreja e a Tradição Apostólica

Se olharmos para o início do ministério público de Jesus, veremos que Ele não apenas pregou, mas também escolheu um grupo seleto de discípulos a quem confiou Sua doutrina. Esses homens foram preparados para continuar Sua obra após Sua morte e ressurreição. Eles não apenas ouviram as palavras de Cristo, mas foram formados para ensiná-las com autoridade. Assim, o que os Apóstolos pregaram e ensinaram não era algo próprio deles, mas a continuidade daquilo que receberam diretamente de Jesus.

E aqui está um ponto essencial: Cristo não desejou um cristianismo fragmentado em inúmeras interpretações conflitantes. Pelo contrário, Ele quis uma única Igreja, um só Corpo e uma só Cabeça (Efésios 4,4-6; Colossenses 1,18). Mas o que vemos hoje? Uma multiplicidade de grupos, cada um alegando seguir a Cristo, mas ensinando doutrinas divergentes. Se há uma única verdade, então todas essas divisões não podem estar corretas ao mesmo tempo.

Se ser cristão significa seguir a Cristo, então isso implica necessariamente em seguir os ensinamentos que Ele confiou aos Apóstolos. E aqui surge um questionamento essencial: essa fé que seguimos hoje vem dos Apóstolos ou é fruto de tradições humanas posteriores?

O Espírito Santo Revela Três Verdades Diferentes?

Se a única regra de fé fosse apenas a Escritura, como explicar as divergências doutrinárias entre cristãos? Pegue, por exemplo, a questão do destino das almas após a morte. Há aqueles que acreditam que a alma dorme até o Juízo Final; outros, que a alma é imediatamente julgada e segue para seu destino eterno; e há quem reconheça que além do céu e do inferno, há também um processo de purificação. Qual dessas é a verdade? O Espírito Santo revelou três doutrinas diferentes para um mesmo tema?

Se a verdade é uma só, então há algo errado com a ideia de que cada um pode interpretar as Escrituras individualmente, sem uma referência segura. Jesus não deixou Seus ensinamentos para serem debatidos de forma subjetiva, mas confiou-os a um grupo específico para que os transmitissem fielmente.

A Bíblia e a Memória Viva da Igreja

Outro ponto fundamental é que a própria Bíblia atesta que nem tudo o que Jesus fez e ensinou está registrado nos Evangelhos (João 21,25). Se a Escritura por si só não contém toda a revelação, como então garantir que estamos seguindo tudo o que Cristo nos deixou? A resposta está na Tradição Apostólica.

Lucas, por exemplo, não conheceu Jesus pessoalmente. Seu Evangelho é fruto de uma pesquisa cuidadosa, baseada em testemunhas oculares e ministros da Palavra (Lucas 1,1-4). Se dependêssemos apenas da Bíblia sem considerar a Tradição, a chamada “Grande Viagem” de Jesus pela região dos gentios, por exemplo, se perderia, pois só é relatada por Lucas. Além disso, os primeiros cristãos não tinham um Novo Testamento compilado; a fé era transmitida oralmente e por escritos dispersos. A Igreja, que desde os Apóstolos preservava essa Tradição, foi a única capaz de discernir, sob a guia do Espírito Santo, quais livros eram inspirados e deveriam compor a Bíblia.

Ou seja, a própria Bíblia que muitos usam como única regra de fé só foi possível porque a Igreja, guardiã da Tradição Apostólica, preservou e autenticou esses escritos. A Escritura, então, não pode ser separada da Igreja e de sua Tradição viva.

Buscando a Fonte da Verdade

Se queremos realmente seguir Cristo e a fé dos Apóstolos, devemos nos perguntar: o que os discípulos diretos dos Apóstolos criam e ensinavam? Como as primeiras comunidades cristãs entendiam e praticavam a fé? Felizmente, temos um tesouro precioso para responder a essas perguntas: os escritos dos Padres da Igreja, que foram discípulos dos Apóstolos e seus sucessores imediatos.

Clemente de Roma, citado pelo próprio São Paulo como colaborador fiel (Filipenses 4,3), escreveu uma carta à Igreja de Corinto no final do primeiro século, exortando-os a permanecerem fiéis à tradição recebida dos Apóstolos. Outros grandes nomes, como Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna e Justino Mártir, dão testemunho claro de que a Igreja já possuía uma hierarquia, um Magistério e ensinamentos que seguiam uma tradição ininterrupta.

Se quisermos encontrar a verdadeira fé cristã, devemos olhar para esses escritos e para a continuidade histórica da fé que nos foi transmitida. Se a Igreja foi a guardiã das Escrituras e preservou a Tradição Apostólica, então a pergunta que devemos nos fazer não é apenas se estamos lendo a Bíblia, mas se estamos interpretando-a à luz da fé que sempre foi ensinada desde os Apóstolos.

Conclusão

Cristo confiou Sua Igreja aos Apóstolos, e estes a seus sucessores. A fé cristã autêntica não pode ser fruto de interpretações particulares, mas deve estar enraizada na tradição que vem desde os tempos apostólicos. Buscar a verdade significa buscar essa continuidade, que é viva e presente na única Igreja que manteve fielmente essa Tradição desde o início.

Diante disso, minha jornada continua, agora com um novo propósito: estudar a fundo os escritos dos Padres da Igreja e confrontá-los com as Escrituras, para encontrar a fé que Cristo realmente nos deixou. Porque se queremos ser verdadeiramente cristãos, devemos seguir não apenas a Palavra escrita, mas também a Tradição viva que a acompanhou desde o princípio.

Que essa reflexão seja um convite para que cada cristão se pergunte: estou realmente seguindo a fé que Cristo deixou, ou apenas uma interpretação ou tradição humana posterior? Se a verdade está naquilo que os Apóstolos ensinaram, então há apenas um único caminho seguro a seguir.

Por Minha Fé Católica - 25/02/2025


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